PONCE em sua obra preocupou mostrar que as lutas de classe acontecem por inúmeros fatores, tudo depende do contexto histórico e das grandes movimentações. A educação aparece como papel fundamental para que elas se desencadeiem.
Ele afirma que: “Quando estudamos as origens das classes sociais, temos a tendência de supor que logo em seguida aparece a luta consciente entre essas classes. A luta consciente propriamente dita entre as classes de uma sociedade, no entanto, não se desenvolve, a não ser em determinado momento da evolução dessa sociedade.”
Que evolução seria essa se não a da transformação da educação?
Na transformação da sociedade comunista primitiva em sociedade dividida em classes, a educação teve como fins específicos a luta contra as tradições do comunismo tribal. O ideal pedagógico já não podia ser o mesmo para todos; não só as classes dominantes tinham ideais diferentes dos da classe dominada, como ainda tentam fazer com que a massa laboriosa aceite essa desigualdade de educação como uma desigualdade imposta pela natureza, desigualdade, contra a qual seria loucura rebelar-se.
No homem antigo, a “liberdade” de ensino não implicava, portanto, a liberdade de doutrina. O professor não moldava os seus discípulos de acordo com as suas próprias concepções; devia formar neles os futuros governantes e inculcar neles, pela mesma razão, o amor à pátria, às instituições e aos deuses.
O aparecimento das novas classes sociais havia transformado de tal modo as velhas relações que a sua influencia se fez sentir ate na disciplina mantida nas escolas. Em todos os lugares se clamava por uma escola mais humana, mais alegre, menos rígida.
As origens da nova classe social que começou a se formar durante a idade Média são um pouco obscuras. Até o século X, as cidades não passavam de miseráveis vilas. Os seus habitantes se resumiam a uns poucos artesãos e domésticos, que trabalhavam para o senhor feudal. Mas, a partir do século XI, progressivas modificações técnicas provocaram um florescimento do comércio. A educação se dava pelo ensino religioso, onde qualquer um que quisesse obter conhecimento deveria entrar para um convento.
Ponce conclui dizendo que “O conceito da evolução histórica como um resultado das lutas de classe nos mostrou, com efeito, que a educação é o processo mediante o qual as classes dominantes preparam na mentalidade e na conduta das crianças as condições fundamentais da sua própria existência. [...] A classe que domina materialmente é também a que domina com a sua moral, a sua educação e as suas idéias. Nenhuma reforma pedagógica fundamental pode impor-se antes do triunfo da classe revolucionária que a reclama.”
“Revoluções no campo educativo, não vimos mais do que duas: quando a sociedade primitiva se dividiu em classes e quando a burguesia do século XVIII substituiu o Feudalismo”
“Em todos esses casos, as reformas educacionais foram precedidas de transições sociais, mas não de convulsões; em todos esses casos, houve previamente modificações no equilíbrio das classes, mas não houve ruptura desse equilíbrio. As quatro reformas mencionadas foram o contragolpe no terreno educacional de um processo econômico mediante o qual uma sociedade aristocrática e agrícola retorcida sem claudicar diante de uma sociedade comerciante e industrial.”
“Em todos esses casos, as reformas educacionais foram precedidas de transições sociais, mas não de convulsões; em todos esses casos, houve previamente modificações no equilíbrio das classes, mas não houve ruptura desse equilíbrio. As quatro reformas mencionadas foram o contragolpe no terreno educacional de um processo econômico mediante o qual uma sociedade aristocrática e agrícola retorcida sem claudicar diante de uma sociedade comerciante e industrial.”
PONCE, A. Educação e luta de classe. São Paulo: Cortez Editora e Autores Associados, 1981.
Escrito por Flávia Lemos Bianquini.